Maioria dos portugueses continua a viver em casas com problemas de eficiência energética. Mas não tem dinheiro para fazer obras.
A maioria dos portugueses vive em casas com problemas de eficiência energética. Esta é uma questão crítica que afeta a saúde, o bem-estar, assim como a qualidade de vida das famílias. Mas resolver este problema parece estar fora do alcance das famílias, apesar de haver hoje apoios públicos neste sentido. O mais recente inquérito realizado pelo Portal da Construção Sustentável revela que a maioria dos portugueses não planeia realizar obras para melhorar a eficiência energética da casa, ou porque não tem dinheiro ou porque consideram os “preços proibitivos”, ou até por não conseguirem financiamento bancário.
Sobre as questões de habitabilidade, quase 70% dos portugueses diz ter problemas na habitação relacionados com a obtenção de conforto térmico, revelam os resultados do inquérito levado a cabo pelo Portal da Construção Sustentável entre 21 de setembro e 6 de novembro de 2023 que contou com 1.079 participantes. Isto quer dizer que a maioria das famílias continua a viver em casas demasiado quentes no verão e frias no inverno, com janelas que não vedam corretamente, com bastante humidade, entre outros problemas. E tendem a aumentar os custos de energia para manter a temperatura da casa. Mas também há quem prefira não gastar dinheiro para aquecer a casa, recorrendo a mais roupa, por exemplo.
Acontece que a maior parte dos inquiridos que dizem ter problemas de conforto térmico em casa (71%), refere que não vai realizar obras e vai continuar a viver assim. Mas porque é que os portugueses não avançam com obras para melhorar a eficiência energética da casa? Um em cada três participantes diz que não tem dinheiro para o fazer. E uma pessoa em cada cinco diz que não realiza obras porque considera que tudo está a “preços proibitivos”. Já em menor percentagem estão aqueles que apontam outras razões, nomeadamente porque não conseguem um empréstimo bancário para realizar obras.
Apesar do Governo ter lançado desde 2020 apoios financeiros para que os portugueses possam tornar as suas “casas mais sustentáveis” - como o Programa de Apoios a Edifícios Mais Sustentáveis -, só pouco mais de metade dos inquiridos assume conhecê-los, muito embora a sua maioria não os pretenda aproveitar. E ainda há uma percentagem expressiva que não tem conhecimento destes apoios (43% do total).
Assim, “apesar de terem casas termicamente desconfortáveis, os portugueses vão continuar a viver com este desconforto”, conclui o estudo. E esta realidade é bem mais abrangente no país. Os dados da Estratégia Nacional de Longo Prazo para o Combate à Pobreza Energética 2022-2050 revelam que entre 1 milhão e 2 milhões de portugueses vivem em situação moderada de pobreza energética e cerca de 700 mil numa situação severa. Significa isto que não conseguem manter uma temperatura de conforto dentro de casa.
“É urgente criar incentivos à melhoria das condições de edifícios existentes, que resultem numa efetiva melhoria dos edifícios, especialmente em termos térmicos. Os resultados deste inquérito revelam acima de tudo, que os portugueses possuem rendimentos muito baixos, e para manterem as suas casas, vivem em situação de desconforto”, conclui Aline Guerreiro, arquiteta e fundadora do Portal da Construção Sustentável.
fonte: https://www.idealista.pt/news/imobiliario/habitacao/2024/01/12/61043-viver-em-casas-ineficientes-portugueses-sem-dinheiro-para-fazer-obras